Cinema e Psicanálise Ribeirão Preto



PROGRAMAÇÃO 2016 CINEMA E PSICANÁLISE RIBEIRÃO PRETO


     Para o segundo semestre de 2016 nós da Comissão do C&P de Ribeirão Preto, escolhemos o tema do 31º Congresso Latino Americano de Psicanálise "O Corpo", como eixo dos filmes e dos comentários dos nossos convidados. Acreditamos ser essa uma oportunidade para conversarmos sobre questões presentes na contemporaneidade, já que o corpo hoje virou a cena principal em vários contextos da nossa vida cotidiana: a obsessão pelo corpo perfeito, a compulsão por exercícios físicos, a necessidade exagerada do controle alimentar, as excessivas intervenções estéticas, o horror ao envelhecimento. Esse corpo “hiperinvestido” e que também é frequentemente fonte de frustração e sofrimento.






Programação Cinema & Psicanálise de Franca, não percam!!!


      A cada novo semestre, nós da comissão do C&P de Franca, vivemos uma experiência ímpar: hora de sonhar a  nova programação.
         O ir e vir de livros de arte, a escolha da obra artística que será impressa no material gráfico, que emerge no grupo como um tema que traduz um determinado momento que vivemos, como este que emoldura nossa programação – A Esperança II de Klimt, tão apropriado para o momento vigente, a escolha de convidados, nos proporciona uma vivência alegre e harmônica.
         A lembrança de um título de filme ou outro, uma cena jamais esquecida, a música de uma película que nos marcou pela existência afora, torna-se objeto de, juntas, compartilharmos sonhos e intimidade.
         Para esse novo semestre, uma grande programação: em agosto, “O Show de Truman” com comentários de Suad H. De Andrade, membro efetivo da SBPSP, analista didata da SBPRP e psicóloga.
         Nas palavras de Ana Regina M. Caldeira, membro efetivo da SBPRP, “o Show de Truman conta a história de um homem que vivia dentro de uma realidade não autêntica, montada por um programa de televisão, o qual era transmitido ininterruptamente para bilhões de pessoas no mundo todo. Truman vivia em um reality show, sem se dar conta disso, cercado por atores em meio a uma cidade cenográfica. Aos poucos, vai percebendo que há algo denunciando a irrealidade, como as constâncias de fatos repetitivos, algumas incoerências, e o endurecimento da espontaneidade dos que estão ao seu redor.
         A beleza do roteiro acontece na medida em que o protagonista vai percebendo a existência de um distanciamento entre o mundo em que vive e um possível mundo real, e corajosamente se direciona em busca dele.
         Uma comédia dramática, dirigida maestralmente por Peter Weir. O filme foi aclamado pela crítica especializada, com indicações ao Oscar, Globo de Ouro, BAFTA e Saturn Award. Protagonizado por Jim Carrey que, a partir de então, deixou de lado as comédias banais que usualmente fazia, e se consagrou ao mostrar sua competência em papéis sérios e consistentes”.
         Já em setembro, teremos o filme “A Flor do Meu Segredo”, com comentários de Sônia M. De Godoy, membro filiado da SBPRP. Ela nos diz: “escolher para comentar um filme do brilhante e instigante diretor Almodóvar é uma ousadia e um desejo antigo. Almodóvar é o diretor de cinema espanhol mais aclamado desde Luís Buñuel. Seus filmes deixam marcas em nossas memórias, pois abordam temos de complexidade extrema de maneira sintética, espontânea, detalhista e apaixonada ao mesmo tempo. Mulheres fortes, mas intensamente presas a relacionamentos amorosos, em temas que rondam a vida, a morte e o comprometimento com as paixões humanas no que elas apresentam de belo, de assombroso e surpreendente é o que ele leva para seus roteiros. Suas obras revelam o que gostaríamos de manter escondido como parte do humano. Alguns consideram “A flor do meu segredo” uma síntese de sua obra.
         Neste, como em vários de seus outros filmes, a mulher em nuances afetivas diversas representa o papel principal. Os personagens revelam-se, embora todos ocultem seus segredos. A personagem Leo Macias, escritora de sucesso sob o pseudônimo de Amanda Gris, é uma mulher submissa ao marido Paco, bem como às exigências de sua editora, já que escreve, segundo contrato com normas e obrigações, romances cor-de-rosa, com finais felizes e ausência de consciência social. Sua necessidade de escrever textos contrários ao que escreve como Amanda Gris, a leva de encontro ao jornalista Angel, do jornal “El País”. Ao mesmo tempo vem mantendo uma intensa crise em seu casamento, humilhando-se para tentar manter o marido a seu lado. A acompanham nesta crise, uma amiga que em determinados momentos a auxilia, bem como sua mãe e sua irmã, e Angel, que passa a ser pessoa importante ao seu lado nos momentos em que ela é tomada por intensa angústia por sentimentos de abandono. O clímax do conflito com Paco, abre novas possibilidades à sua vida, como um convívio mais próximo com sua mãe e as amigas desta numa vila onde morou enquanto criança, escrevendo e lendo cartas para pessoas analfabetas. Neste encontro pleno de amorosidade a aconchego, Leo busca um reencontro consigo mesma e o reconhecimento de sua força enquanto mulher”.
         Denise L. R. Antônio, membro efetivo da SBPRP,  será a comentarista do filme “O estranho em mim”. Segundo ela, “ Das Fremde In Mir, Alemanha, 2008, de Emily Atef, nos apresenta de modo delicado à dolorosa experiência de tomarmos consciência da complexidade do nascimento de um filho.
         No início do filme Rebecca, a protagonista, na faixa de 30 anos, está grávida. Ela é uma mulher tranquila, vive um casamento amoroso com Julian, tem prazer em seu trabalho e está feliz à espera de seu primeiro filho. As circunstâncias nos levam a crer que o nascimento do filho irá transcorrer tranquilamente, que veremos as cenas clássicas da chegada de um bebê e a relação amorosa entre mãe e filho. “Nós todos crescemos com esta noção de que uma mãe irá amar o recém-nascido instintivamente e incondicionalmente. Há algo quase sagrado nesta imagem idealizada da mãe” comenta Emily Atef, cineasta alemã que dirige este filme.
         A tranquilidade e a idealização desaparecem a partir do momento em que Rebecca experimenta as dores do parto. O nascimento ocorre, o filho é apresentado à mãe, porém ela já se afastou daquela realidade e se encontra imersa num estado mental inesperado de indiferença e distanciamento. Ela não consegue receber seu bebê com aquele amor esperado por ela e por todos nós. Rebecca ficou imersa em sentimentos de estranheza!
         Segundo Winnicott, quando o bebê está no útero, a função da mãe consiste em proporcionar um meio que lhe dê tempo para amadurecer, conseguindo assim enfrentar a inevitável tarefa da separação física que se dará ao nascer. E, em continuidade, essa função, logo após o nascimento, levará a mãe e o seu bebê a formar uma nova entidade composta por mãe-bebê, onde um aspecto da mãe está misturado com seu filho, gerando um estado emocional à mãe que ele chamou de preocupação materno-primária. É uma vivência de sentir-se no lugar do bebê, isto é, perder-se a si mesma e compor-se como uma parte dessa nova entidade chamada mãe-bebê. Se nenhum aspecto da mãe for sentido como uno ao bebê, se não existir nenhuma identificação, este será vivenciado como um objeto estranho.
         O filme transcorre sob esse clima de estranheza entre mãe-bebê, entre marido-mulher, mostrando como todas relações familiares ficaram afetadas por este estado mental de Rebecca. Ele nos apresenta ao que a Psiquiatria denomina Depressão Pós-Parto, e nos mostra com delicadeza a importância dos cuidados com a mãe, com o bebê e com o casal quando se encontram nessas circunstâncias. 
         O que acontece com a mente dessa mãe? Que tipo de dificuldade ou transtornos esse bebê experimenta diante das falhas dos cuidados maternos? Quais são as possíveis chaves para o acolhimento desse estado de mente da mãe, do pai, do bebê e das relações entre eles? Qual a importância da psicanálise na compreensão desse tipo de experiência?”.
         Na última apresentação do semestre, teremos “Relatos Selvagens”, com comentário de Ana Márcia V. Paula Rodrigues, membro associado da SBPRP. Em suas palavras “Relatos Selvagens é o longa argentino de 2014 do diretor Damián Szifron, que abriu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ficou em cartaz no Cine Belas Artes em SP durante mais de um ano.
         Seu extraordinário roteiro refere-se a situações comuns do dia a dia que acabam se tornando trágicas e com as quais nos identificamos prontamente. As seis histórias diferentes são contadas com humor sofisticado e inteligente e são interligadas por uma temática em comum que lhes dá unidade e coesão. Seus protagonistas são colocados face a face com situações de extrema frustração ou injustiça, tendo que se haver com sua parte mais primitiva.
         Embora tragicômico, é um filme “libertador” por realizar em suas cenas muito daquilo que reprimimos e tantas vezes desejamos realizar; como a explosão do engenheiro que é injustiçado pelo tremendo sistema burocrático de trânsito ou a vingança da noiva que descobre, em plena festa de casamento, que seu noivo a está traindo com uma das convidadas. Ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre nossos limites e a tênue separação entre a civilização e a barbárie, a loucura e a sanidade.
         O filme foi selecionado para a Palma de Ouro, prêmio de maior prestígio do Festival de Cannes, para o prêmio Goya, o Oscar do cinema espanhol, e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro da edição 2015. Recebeu o Prêmio Goya de melhor filme íbero-americano”.
         Assistir a um filme, poder ouvir comentários, sonhar, ouvir-se a si mesmo, questionar, tem se tornado uma experiência enriquecedora a todos nós! Venham!

Fátima M. Cassis Ribeiro Santos, médica psicanalista - Membro Associado da SBPRP.

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