“Interlocuções
entre a psicanálise e a literatura”
Freud
foi um leitor ávido de romances e um fértil escritor. Em “Estudos sobre a
Histeria” afirmava: “...e
ainda me surpreende que os históricos de casos que escrevo pareçam contos e
que, como se poderia dizer, eles se ressintam do ar de seriedade da ciência” (Freud, 1895, p. 209).
Podemos
pensar que a psicanálise tem uma dívida para com a literatura, que aponta
caminhos para aqueles interessados nos mistérios da alma humana, na sua
infinita combinação de personagens e situações emocionais narradas.
Há
autores que utilizam textos literários para estimular experiências emocionais
nos participantes de um grupo de estudos, propondo que essas vivências e sua
discussão implicam um aumento da capacidade para reconhecer e interpretar
estados afetivos e expandir o espaço mental em extensão e profundidade.
Bion
(Bion,2005) afirma que não existe linguagem apropriada para o domínio do campo
denominado mente, caráter ou personalidade, a despeito da existência do mesmo.
Afirma que, dado esse problema, nossas “descrições
do campo mental facilmente se desgastam como uma faca que perde o fio ou uma
moeda sem lastro” (Bion, 2005, p. 2). Propõe que a criação de
teorias, arte e religião nos auxiliam a suportar nossa ignorância e preencher vazios
quando nos sentimos perdidos e terrivelmente aterrorizados, como o neurótico
preenche lacunas de suas mentes com narrativas fantasiosas. Segundo Bion, há esperança
que a psicanálise e a literatura, de alguma maneira, se refiram à realidade.
No Semeando a Psicanálise do dia 10 de novembro de2015, seguindo Freud
e autores contemporâneos como Bion e Ogden, faremos um passeio pela interface
entre a psicanálise e a literatura, procurando uma forma de falar sobre os
conteúdos de um trabalho analítico que escape dos jargões e enriqueça o
trabalho de contato com narrativas de emoções.
Dr. Alexandre Martins
de Mello – SBPRP.
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