Comentários do Filme
SÔNIA MARIA DE GODOY-
Psicóloga- membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão
Preto
“Oh, Deus! Possa eu estar
vivo quando morrer! ”
Donald Winnicott, psicanalista britânico,
assim se manifestou para mostrar seu enorme interesse por experiências que lhe
trouxessem novos conhecimentos. Pessoa descrita como essencialmente feliz por
sua esposa Claire, procurou expressar nesta frase seu desejo de poder continuar
interessado em aprender até o momento de deixar a vida.
Atualmente existe um
forte movimento em nossa sociedade no sentido de aceitar mudanças na atribuição
de funções para nós, seres humanos que alcançamos idades mais longevas do que
nossos antepassados. As descobertas científicas e tecnológicas que nos
proporcionam maior qualidade de vida têm ao mesmo tempo nos dado a chance de experimentarmos
novos comportamentos. A plasticidade cerebral, a regeneração de sinapses
neuronais e outras descobertas
científicas fazem cair por terra ideias
preconceituosas sobre aprendizados nesta “nova idade”. Hoje questionamos se avós e avôs teriam sido mesmo determinados
apenas para cuidarem dos netos, ou mesmo descansarem, como um compromisso
estabelecido e assentado entre gerações.
Se atentarmos para a
história da humanidade com olhar mais acurado, perceberemos que muitos já
tinham rompido com os “tabus da velhice” anteriormente. Lembro aqui Sigmund
Freud, que mais e melhor produziu em seus anos maduros, apesar das perdas e
lutos que sofreu em vida. Fernanda Montenegro, que aos 85 continua sendo das mais prestigiadas atrizes
brasileiras, tendo ganhado o Emmy Internacional em 2013. Chico Buarque, que chegado aos 70 começa a namorar a cantora
ruiva Thaís Gulin e nos oferece sua leitura do tempo sem tempo que é o do amor,
na deliciosa música Essa pequena : “meu tempo é curto/ o tempo dela sobra/ meu cabelo é
cinza/ o dela cor de abóbora/ temo que não dure muito/ nossa novela/ mas eu sou
tão feliz com ela...”
O filme que o Cinema e Psicanálise de Franca apresenta
neste sábado, O exótico hotel Marigold,
faz-nos pensar sobre estas e outras questões. Baseia-se no livro These foolish
things, Estas coisas tolas, de
Deborah Moggach. O diretor segue à
risca a autora, nos apresentando esta capacidade de alguns se redescobrirem nas
mínimas coisas. Os personagens vão se deparando com a importância dada às
coisas tolas, e aprendendo que elas não valem o esforço feito. As couraças, nas
quais todas as idades se prendem, inclusive o jovem par amoroso do filme, aos
poucos vão caindo, e suas verdades tão procuradas vão aparecendo. É uma comédia
deliciosa, que aborda a possibilidade de
rompermos com o conhecido para experimentarmos o desconhecido dentro e fora de
nós, independentemente da idade que tenhamos. Com esta ideia como fio condutor,
o filme nos mostra britânicos na terceira
idade que realizam a experiência absolutamente nova de mudar para um país
desconhecido, a Índia, deixando para trás filhos, parentes, amigos, abrindo-se
à aventura de conhecer novos amigos, amores, parcerias, reconciliando-se com o
passado, reencontrando-se consigo mesmos, e até mesmo trabalhando pela primeira
vez.
“Tudo sempre dá certo no
final! Se ainda não deu certo é por que ainda não chegou ao final! ” Estas as crédulas
palavras do personagem indiano, que é dono do hotel Marigold, em Jaipur na Índia,
descrito na internet como um excelente e excêntrico hotel para os idosos. A
verdade, bem, os novos hóspedes do hotel vão descobrir quando lá chegarem e se
acomodarem, enquanto vão se adaptando às novas rotinas, sabores, odores, sons e
cores, da Índia: “uma verdadeira explosão sensorial”, conforme palavras de uma
das protagonistas da história, Evelyn (Judy Dench).
Como em nossas vidas, entre
os personagens desta bela história encontramos variadas formas de pensar e
sentir: há os que construíram uma parede entre eles e as novas experiências e
rejeitam “mergulhar e descobrir o que existe de belo do outro lado”, conforme
conclama Evelyn. Manter-se em estado de nascimento e curiosidade em nossas
vidas, descobri-la em plenitude, fazer experiências inéditas, demanda coragem
para viver cada fase, respeitadas as diferenças e dificuldades que cada uma
delas impõe.
Este é um filme com uma
visão esperançosa e humanista sobre a vida, o amor e a morte, e em um de seus diálogos
tal reflexão é inevitável. Ao ser
perguntado pela mal-humorada Jean Ainslie (Penelope Wilton), que detesta tudo o
que a cerca, mesmo em seu próprio país, “o que o senhor vê neste país que eu
não vejo? ” Graham lhe responde: “As luzes, as cores, os sorrisos. O modo das
pessoas verem a vida como um privilégio e não como um direito”.
No Cinema e Psicanálise deste sábado a psiquiatra e psicanalista Ana
Márcia Vasconcelos Rodrigues estará comentando e conversando sobre este e
outros sonhos que o filme possa provocar em nossa plateia fiel. Até lá!
O diretor
Para John Madden, 66, o diretor
inglês, “O mundo está envelhecendo. As pessoas vivem mais, a expectativa de
vida é cada vez maior. Esta geração cresceu de maneira privilegiada, evitando a
experiência da guerra, lidando melhor com a saúde e a doença, o que cria outra
experiência de amadurecimento. ”
Esta
foi uma das suas motivações para filmar em 2011 O Exótico Hotel Marigold e recentemente
O Exótico Hotel Marigold II , que
acaba de estrear em cinemas do Brasil. Na
Inglaterra foi primeira bilheteria nas três primeiras semanas.
O
primeiro filme de Madden - Ethan Frome,
um amor para sempre, foi seguido
por Sua Majestade,
Mrs. Brown, que recebeu duas indicações ao Oscar. Embora não tenha muitos filmes no currículo, conquistou
mais de 50 prêmios por Shakespeare Apaixonado, de 1999. Além do Oscar por
melhor filme, melhor roteiro original, melhor figurino e melhor direção de
arte, e por suas atrizes Gwyneth Paltrow (melhor atriz) e Judy Dench
(coadjuvante), ganhou ainda o Bafta, o Globo
de Ouro e o do Sindicato de Diretores. Capitão Corelli, No Limite da Mentira, Golden Gate
e
A prova são outros títulos por ele assinados. Para a TV britânica produziu Inspector
Morse e The case-book of Sherlock Holmes
entre outros..
Sobre
O exótico
Hotel Marigold diz : “Não há nada mais excitante do que mergulhar em uma
outra cultura”.(SG)
Publicado
no jornal Comércio da Franca do dia 20/06/2015, no Caderno Nossas Letras.
_____________________________________________________________________________________________________________
Acompanhe a chamada para essa sessão, publicada no Jornal Comércia da Franca no dia 19/06/2015 no caderno de Artes:
Ana Márcia Vasconcelos de Paulo Rodrigues- médica
psiquiatra e psicanalista de Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão
Preto
No próximo dia 20/06, o
Cinema e Psicanálise de Franca apresentará o filme “O Exótico Hotel Marigold”.
Sua história é sensível, divertida e capaz de nos emocionar. Toca num tema tabu
para nossa sociedade atual que é o envelhecimento e suas repercussões. Mas a
jovialidade e o humor com que o roteirista e diretor do filme arquitetaram a
história, revelam o impacto e a alegria que surgem quando é possível o
reencontro do velho e do moço, de forma criativa e complementar.
Nos deleitamos com o esplêndido
time de atores que interpretam os personagens dos sete idosos britânicos que viajam para a
Índia, em busca do lugar paradisíaco que escolheram pela Internet, para gozar a
paz e harmonia, descanso e recompensa. Mas, o que encontram na realidade, é a
vida pulsante, intensa e, muitas vezes caótica, de um país que contêm o antigo
e o moderno em constante interação.
Vemos que mais do que a corajosa aventura como
estrangeiros que os “belos e idosos” fazem pela Índia, a verdadeira viagem vai
sendo a da descoberta de fatos emocionais essenciais de suas histórias
internas, que ficaram perdidos ou congelados, ao longo da vida.
O filme aborda, com
leveza e sensibilidade, a capacidade humana para o encontro com a diversidade
que há no contato humano e seus costumes, modos de viver e de pensar. A reação
de cada um perante o que é novo poderá ser a de paralisar, negar ou resgatar e
reconstruir o mundo interno.
Penso que nesta ousada
aventura, há uma busca inconsciente do que há de mais precioso e verdadeiro em
cada um, neste momento da vida.
E neste país cheio de paradoxos,
contrastes e contradições, torna-se decisiva a capacidade para apreciar a
beleza e sentir os prazeres e as dores de uma experiência emocional.
Precisamos da arte e
do senso de humor para nos aproximar de fatos dolorosos e universais como as
representações da passagem do tempo, do envelhecer e da morte. E a articulação
da psicanálise com o cinema, bem como com outras formas de arte, tem sido
extremamente rica, ao introduzir uma nova forma de apreender o ser humano.
Sendo assim, o
encontro da mente, que não tem idade, com o corpo que sofre as marcas do tempo
e envelhece, causa impacto e desencontro e exige um tremendo trabalho psíquico,
que foi chamado de envelhescência.
Neste sentido,
envelhecer não representa só um momento de perdas, mas pode ser um tempo de
maior liberdade para usar potenciais criativos adormecidos, realizar projetos
sonhados e, sobretudo, sermos nós mesmos.
O tratamento
psicanalítico é um encontro peculiar de inconscientes – qualquer que seja a
idade do paciente e do analista – e nele estão em jogo os desejos e os sonhos, que nunca envelhecem.
Este filme nos dá
oportunidade de nos aproximar, sem preconceito e com verdadeira apreciação, do
encontro-desencontro das diversas idades que nos constituem, em qualquer fase
da vida, sem excluir as peculiaridades de cada uma delas.
Informes
importantes: É aberto ao público em geral.
Dia 20 de junho, às 15 hs, no anfiteatro da sede
campestre do Centro Médico de Franca
Artigo publicado no Jornal Comércio da Franca do dia 19 de Junho de
2015, no Caderno de Artes.
0 comentários:
Postar um comentário