sábado, 3 de março de 2012


Por Cristiane Sampaio
mtb: 61431

Boa noite, pessoal!

No próximo mês de Abril, como vocês já devem ter visto em nossa página de eventos, a SBPRP - SociedadeBrasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto trará para um grande encontro, Marcelo Viñar. O Psicanalista e membro titular da Associação Psicanalítica do Uruguai –APU vem sendo conhecido no Brasil por todos aqueles que se preocupam com a relação entre a psicanálise e o contexto sócio-político. Pensando em proporcionar um momento de discussão sobre este tema tão relevante para o universo da psicanálise, vamos preparar um evento durante três dias na cidade, com diálogos exogâmicos e atividades para os participantes. 

(Acesse aqui para saber todas informações sobre o evento!)

Marcelo vai apresentar durante o evento dois trabalhos, com os temas: ‘Entre tradição e invenção: Algumas encruzilhadas da Psicanálise atual’, ‘A relação entre a Clínica e a Teoria’.

Viñar tem uma vasta experiência como psicanalista no trabalho com ex-torturados. As possibilidades da psicanálise ser exercida em situações-limite, violência social, infância marginalizada e infratora, xenofobia, intolerância - questões tão gritantes de nosso mundo de hoje - são alguns dos temas que norteiam sua reflexão. 

Ele é um psicanalista uruguaio com vários avatares. Em meio à ditadura, exilou-se em Paris, ali tendo contato com Serge Léclaire, René Major, os Mannoni e outros. Se preparem, pois histórias e experiências que não vão faltar! Hoje, ele trabalha com a supervisão do atendimento à infância marginalizada e é autor de vários artigos divulgados em revistas especializadas.


“Cada ser humano resume um pouco a história de sua geração e de seu tempo e, talvez, mais do que algo referido à minha própria pessoa, interesse um testemunho da geração à qual pertenço. É certo que o ofício de psicanalista me parece muito importante e cada vez mais atravessado pelo tempo: pela história de seu país, de sua região, pela história do seu lugar de pertinência. E isso tem se modificado através das décadas...

Comecei minha vida profissional pelos idos dos anos 60 - um período tomado como referência dos últimos discursos de utopia do século XX. É surpreendente que hoje, ao falarmos com a geração atual, possuidora de suas próprias referências, e à luz do que está acontecendo no mundo, nosso discurso de 40 anos atrás se revele como um discurso muito transcendental, etnocêntrico e auto-referido. Nele, fundávamos um novo país, um novo pensamento, uma nova história. Estávamos, mais ou menos explicitamente, atravessados pelo mito do novo homem e de um projeto de justiça social que desmoronou ao longo do século. Pensava-se o mundo a partir do marxismo, da psicanálise, do catolicismo, do judaísmo, e havia um macro-discurso que aos olhos de hoje pode parecer nostálgico e megalomaníaco. Falava-se de uma dimensão de desejo de vida que abarcava um projeto pessoal, grupal e coletivo de décadas, sobre o qual tínhamos uma espécie de certeza de realização. Isso foi se arruinando, sobretudo na América Latina, através das ditaduras militares que destruíram todos os projetos alternativos, políticos e profissionais.

Sou filho de alguém que imigrou da Europa na sua infância, e que era um homem do campo que amava a terra e a produção agropecuária. Eu, por minha vez, podia escolher entre ser um homem do campo ou seguir por onde certamente me empurrava minha própria neurose. A figura paterna sempre funciona como um modelo de referência, em relação ao qual se trabalha em continuidade ou em ruptura. Aquilo que recordo como o primeiro chamado do que depois pude chamar de psicanálise era entender por que as pessoas riam, por que as pessoas sofriam e por que as pessoas gozavam. Isso se converteu num objeto de curiosidade, talvez porque fosse muito enigmático o porquê das pessoas pensarem e sentirem de determinada maneira. A noção de enigma e de curiosidade por esse enigma, do porquê das pessoas desfrutarem do modo como o faziam, atraía-me e eu acreditava que existia um modo possível de ler a alma humana para entender os indivíduos, os grupos e as sociedades - com uma megalomania que aos quinze anos é muito suportável e até, quem sabe, desejável. Então, já que a psicologia estava muito mal no meu país, segui a carreira médica e fiz a trajetória absolutamente comum daquela época: estudei primeiramente medicina, depois, psiquiatria...”.
Marcelo Viñar


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Acesse aqui a página do evento, você não vai ficar fora dessa.

Até semana que vem! Fiquem ligados nas atualizações em nossa página do facebook e aqui no blog.

Fonte: www.uol.com.br

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