terça-feira, 24 de maio de 2016

IV Bienal de Psicanálise e Cultura da SBPRP 
"Psicanálise e Tecnologia: Diálogos Possíveis"
IV Bienal de Psicanálise e Cultura
Psicanálise e Tecnologia. Diálogos Possíveis.

Abertura, Theatro Pedro II, 19 de maio de 2016.
Maria Bernadete Amêndola Contart de Assis

Sejam todos bem vindos à IV Bienal de Psicanálise e Cultura da SBPRP.
É com alegria que recebemos vocês para compartilharmos ideais, dúvidas e inquietações sobre o tema escolhido para essa edição: Psicanálise e Tecnologia. Diálogos possíveis.
Eu vos saúdo, como diz Fernando Pessoa, e desejo a todos nós, sol que nos ilumine, escuridão que nos permita ver as estrelas (como nos ensina Freud) e chuva que nos fertilize, no decorrer desses dias da nossa Bienal.
Sinto-me feliz e orgulhosa por pertencer a uma Sociedade, cujos membros se empenham para organizar um evento como o que se inicia hoje e, com entusiasmo, oferecem a si mesmos e à comunidade a oportunidade de pensar um tema atual e empolgante.
Na nossa I Bienal, em 2008, a pergunta contida no título era de Júlia Kristeva: Alma, estás aí? Indagávamos sobre os destinos da interioridade do Homem no início de um novo século. Hoje, oito anos depois, a pergunta continua a reverberar. Diante das novidades tecnológicas e das mudanças que elas provocam em nossas vidas, ela se revigora, se fortalece, se intensifica: que Homem está aí? Com que alma? Com quais emoções? Com que condição sonhante? Com quais sofrimentos? Com que perplexidades? Com que medos?
A Psicanálise transita por estas paisagens de dentro (como o belo título do livro de Icleia Borsa Cattani, 2009 sobre as últimas pinturas de Iberê Camargo). É aí – nas paisagens de dentro – que nós psicanalistas instalamos nosso ateliê, na microscopia e na intimidade das relações humanas.
Portanto, nada mais natural do que surgir dentro de uma Sociedade de Psicanálise reflexões sobre as influências das novas tecnologias no interior de cada um de nós. Abrir o diálogo com profissionais das áreas – de comunicação, semiótica, ciências da computação, educação, literatura, antropologia, filosofia, artes cênicas e fotografia – tal como faremos nessa Bienal, é ampliar e aprofundar estas questões, em busca de reunir ideias e sonhos.
Vejam que interessante: Em 2015, o tema do Congresso Internacional de Psicanálise, foi “Mundo em Mudança”. O tema do próximo Congresso, em 2017, será “Intimidade”. Observo no movimento do tema de 2015 para 2017, um olhar que se move em direção ao de dentro, ali onde somos especialistas. Sem reducionismos, no entanto, sem desconsiderar o contexto sócio-cultural em que estamos mergulhados. Tal é o nosso propósito nessa Bienal: olhar para nossa interioridade, questionando sobre os caminhos e descaminhos da intimidade em um mundo em mudança, como se reuníssemos os dois temas dos congressos internacionais.
Falamos de um mundo novo hoje. No entanto, vale lembrar que ele já foi novo quando o Homem primitivo dominou o fogo, já foi novo com a invenção da roda, da pólvora, da prensa, da eletricidade, da máquina a vapor, do telefone, da televisão, do cérebro eletrônico (os mais velhos aqui presentes vão se lembrar de que este foi o primeiro nome do computador); estas novidades mudaram os rumos da Humanidade. Agora parecem pequenas diante da Revolução da Informática, com o advento da Internet, do mundo Virtual.
Em Psicanálise trabalhamos com o princípio de que o novo está sempre presente. É a todo instante. Hoje não sou o que fui ontem e nem o que serei amanhã. Somos novos sempre, a cada experiência vivida. O momento em que vivemos, com tantas novidades, é especial para colocar em evidência o movimento contínuo e permanente da Humanidade. Movimento a ser pensado em suas mais profundas ressonâncias na alma humana.
Convido-os então a se abrirem para o novo: atentos, observadores, curiosos, como as crianças. Despojados de pré-conceitos e de teorias previamente construídas, que podem nos cegar. Entusiasmados com as inquietações nascidas do contato com o desconhecido.
Falando em entusiasmo diante de inquietações, e do gosto pela abertura para o desconhecido, volto a Fernando Pessoa.
Abram-me todas as janelas!
Arranquem-me todas as portas!
Puxem a casa toda para cima de mim!
Quero viver em liberdade no ar,
Quero ter gestos fora do meu corpo,
Quero correr como a chuva pelas paredes abaixo,
Quero ser pisado nas estradas largas como as pedras,
Quero ir, como as coisas pesadas, para o fundo dos mares,
Com uma voluptuosidade que já está longe de mim!

Não quero fechos nas portas!
Não quero fechaduras nos cofres!
Quero intercalar-me, imiscuir-me, ser levado,
Quero que me façam pertença doída de qualquer outro,
Que me despejem dos caixotes,
Que me atirem aos mares,
Que me vão buscar à casa com fins obscenos,
Só para não estar sempre aqui sentado e quieto,
Só para não estar simplesmente escrevendo estes versos!
De Saudação a Walt Whitman - Álvaro de Campos.




E assim nos despedimos... mas em breve tem muito mais!!!

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