terça-feira, 6 de setembro de 2016


SEMEANDO A PSICANÁLISE FRANCA

Venha participar de mais um Semeando a Psicanálise - Franca no dia 12 de Setembro 
Local: Teatro da Odontologia da Unifran
Informações: (16) 3711-8828
Inscrições: Portal do Aluno (Unifran) ou www.unifran.edu.br/pos-graduacao-pesquisa-extensao/extensao




Inexistência e a construção do eu: reflexões psicanalíticas

Débora Agel Mellem

O filme "Mundo invisível" foi concebido por Leon Cakoff e Renata de Almeida, a partir de uma ideia de Serginho Grossman, de abordar a invisibilidade, um tema abstrato, com vários significados possíveis. Com onze curtas, dirigidos por grandes cineastas, as cenas ocorrem na cidade de São Paulo, focalizando a vida nas grandes metrópoles, as minorias excluídas (que ninguém parece ver), o homem ausente de sua própria história, perdido no artificialismo e consumismo. Na “dura poesia concreta de suas esquinas”, São Paulo também carrega suas contradições e é o habitat de um homem que busca aproximar-se do mistério, das verdades, do invisível como essência do viver.
Escolhi o curta “As aventuras de um homem invisível”, de Maria de Medeiros, para abordar, a partir de um vértice psicanalítico, questões da subjetividade em nossa sociedade atual. O invisível expressando um sentimento de inexistência, que se transforma, a partir do olhar do outro, criando um espaço psíquico, original.
O protagonista do filme, um garçom de um hotel de luxo (um microcosmo), no início parece ser invisível, a câmera só foca a comida e os utensílios que transporta. Ele é sensível e vai observando os dramas dos hóspedes deste hotel. As situações expressam o trágico no homem contemporâneo, um ser repleto de contradições, desintegrado e/ou não integrado, que não consegue ser transparente, verdadeiro. Os personagens não tem uma identidade definida, alguns parecem nem existir, sendo como “mortos que andam”. Dentre eles, destacam-se a cantora deprimida, que expressa um vazio imenso, vende discos, mas não se reconhece no que produz, sente-se como um simulacro. O filme também nos apresenta o marido que não une suas tendências eróticas e afetivas, cumpre um papel social com a mulher e filha, mas precisa de uma prostituta para sentir-se potente; além de uma mulher que só consegue namorar à distância, sente excitação sexual, ao ouvir a voz de um homem, através de um celular.
Mas existem paradoxos no viver, ao mesmo tempo que o homem distancia-se de si mesmo, busca um olhar que o permita existir, um olhar para o invisível de nossa alma. No filme, é impressionante como somente a personagem cega (Denise Fraga) é capaz de perceber quem é o garçom, o José, um homem generoso. É preciso nos cegar para os aspectos sensoriais, para alcançarmos o mundo interno, o sonho.
O psicanalista, como o cego Tirésias, da tragédia de Édipo, ao desprender-se do sensorial, do mais visível, entrega-se ao mistério, ao desconhecido, à imensidão do inconsciente. Vive com seu analisando uma experiência emocional original, inédita. O que não pôde ser construído no passado, agora é viável, pois a busca pela comunicação de emoções encontra um ambiente favorável, de compaixão e amor.
A expressão de Freud, de que ao conduzir uma análise é preciso emitir um “facho de intensa escuridão”, inspira Bion e Grotestein a enfatizar o abandono de memória e desejo. Assim, o analista pode acessar seu repertório de experiências conscientes e inconscientes, oferecendo ao analisando sua intuição e rêverie.

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