"Hanami - Cerejeiras em Flor"
Quem sabe o que é o Hanami? Hanami é a
tradição japonesa de contemplar as cerejeiras em flor, que resplandecem -
delicada e fugazmente - poucos dias por ano. É um ato de contemplação estética
da beleza e da força da natureza, uma homenagem à vida. No Japão moderno, no Hanami se realizam
festas ao ar livre embaixo das árvores floridas.
O filme “Hanami
— Cerejeiras em Flor” nos remete à questões básicas da condição humana:
somos seres frágeis, separados ao nascer e ao mesmo tempo profundamente
dependentes uns dos outros; e mais, somos todos finitos, limitados ao curto
tempo de uma vida. Mesmo quando se alcança a maturidade, a vida é breve; 90
anos, que seja, é pouco, se formos pensar bem. Assim, a protagonista do filme,
Trudi (Hannelore Elsner), nos faz pensar: como dar amor e felicidade a alguém
que você ama, a quem dedicou quase toda sua vida, e que está prestes a morrer
de uma doença terminal?
Trudi descobre que seu marido Rudi (Elmar
Wepper) está com uma doença disseminada pelo organismo, incurável, e, seguindo a
sugestão dos médicos, decide aproveitar o tempo remanescente fazendo uma viagem
de férias e assumindo a responsabilidade de ocultar-lhe a verdade sobre sua
doença. Decidem visitar seus filhos em Berlin, o que ocorre sem ninguém saber
que Trudi estava promovendo uma viagem de despedidas do pai, mas como o tempus fugit, na correria do dia-a-dia
os filhos não tem disponibilidade para os pais... Todavia, o inesperado irá
mostrar a sua cara: quem vive e quem morre? Para estar vivo basta o coração
bater? Que coração: o do peito ou o da alma?
Durante a viagem, Trudi, que já está
elaborando o luto pela separação de seu amado, perde a inibição de expor a ele os
seus pequenos prazeres estéticos, como por exemplo exercitar uma modalidade de
dança contemporânea chamada Butoh, que é uma dança moderna japonesa que busca
uma forma de expressão não necessariamente coreografada, nem presa a movimentos
estereotipados que remetam a uma técnica específica ou rígida, ela busca o
fugaz, o momento presente e a impermanência. Esse é um tema central do filme: porque
não expor ao outro quem realmente somos e ver se isso se reverbera de alguma
forma na maneira como a pessoa lida consigo mesma e com os outros ao seu redor?
Seria pela falta de tempo e disponibilidade ou por uma certa covardia e preguiça?
E o mesmo não se aplicaria numa relação analítica?
A relação amorosa – e este filme é também um
romance – é efêmera; como nas maravilhosas floradas das cerejeiras, no amor temos
que tentar deixa-lo florir e revelarmos nossa essência em sua plena força e dor.
Aí então, devemos tentar aproveitar ao máximo o breve esplendor do amor. Em
geral, fugimos do desabrochar quem realmente somos, evitamos mostrar nosso
verdadeiro Eu, expondo nosso coração no que ele tem de belo, de frágil e de
doloroso...
Trudi e Rudi, os protagonistas desta bela
estória, enfrentando suas dores de finitude e separação, irão lidar com as
dores da vida das quais geralmente nos evadimos; fazem isso buscando sua
evolução pessoal. A diretora, Doris
Dörrie, parece concordar com essa ideia, numa entrevista sobre o filme ela
afirmou: “O sofrimento é um processo de integração. Primeiro, há dor infinita
pela separação física e a consciência de que um nunca mais poderá se encontrar
com o outro fisicamente. Mas esse processo também se torna uma espécie de
integração interna quando, de repente, um passa a carregar o outro
internamente. Isso conduz a um diálogo interior que não cessa com o tempo, um
diálogo que não pode ser interrompido”.
Dr. Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro
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