Emily Atef
[Das Fremde In Mir, ALE, 2008]
[Das Fremde In Mir, ALE, 2008]
Comentários:
Denise Lopes Rosado Antônio – Psiquiatra e Psicanalista - Membro Efetivo da
SBPRP.
O estranho em mim (Das Fremde In Mir, Alemanha, 2008), de Emily Atef, nos apresenta de modo
delicado à dolorosa experiência de tomarmos consciência da complexidade do nascimento
de um filho.
No início do filme Rebecca, a protagonista, na faixa de 30 anos, está
grávida. Ela é uma mulher tranquila, vive um casamento amoroso com Julian, tem
prazer em seu trabalho e está feliz à espera de seu primeiro filho. As circunstâncias nos levam a crer que o
nascimento do filho irá transcorrer tranquilamente, que veremos as cenas
clássicas da chegada de um bebê e a relação amorosa entre mãe e filho.
Berthe Morisot - The Cradle – 1872
O encantamento começa a desaparecer a partir da experiência dolorosa de
Rebecca ao passar pelas dores do parto. Ocorre o nascimento do filho, ele é
apresentado à mãe, porém ela já se encontra imersa num outro estado mental. Num
estado mental de indiferença, de distanciamento. Rebecca não consegue receber
seu bebê com aquele amor esperado por ela e por todos nós. Rebecca o recebe com
sentimentos de estranheza.
Segundo Winnicott, quando o bebê está no útero, a função da mãe consiste
em proporcionar um meio que lhe dê tempo para amadurecer, para vir a enfrentar
a inevitável tarefa da separação física que se dará ao nascer. E, em
continuidade, essa função, logo após o nascimento, levará a mãe e o seu bebê a formarem
uma nova entidade composta por mãe-bebê, onde um aspecto da mãe está misturado
com seu filho gerando um estado emocional à mãe que ele chamou de “preocupação
materno primária”. É uma vivência de sentir-se no lugar do bebê, isto é,
perder-se a si mesma e compor-se como uma parte dessa nova entidade chamada mãe-bebê.
Se nenhum aspecto da mãe for sentido como uno ao bebê, se não existir nenhuma
identificação, este será vivenciado como um objeto estranho.
Essa pintura
da Frida Kahlo, “Minha ama e eu”, é uma
imagem que choca por nos apresentar uma relação fria, distante. Nela, a amamentação
acontece; porém, a relação afetiva entre mãe-bebê não está presente. Eles são elementos
estranhos um ao outro. O bebê tem que amadurecer à duras penas, suas reações serão
de choro intenso, irritabilidade e dificuldades para dormir.
O filme transcorre sob esse clima
de estranheza entre mãe-bebê, entre marido-mulher, refletindo em todos os
familiares. Ele nos apresenta ao que a
Psiquiatria denomina Depressão Pós-Parto, e nos mostra com delicadeza as
consequências e a importância dos
cuidados com a mãe, com o bebê e com o casal . A chave da saída desse
estado da mãe, pai, e bebê está na base da personalidade dos nossos protagonistas,
E que vem a ser o sentimento amoroso.