SONHAÇÕES
As habilidades de traduzir e
narrar estão presentes na história da humanidade e são intimamente ligadas à
historicidade de todas as áreas de conhecimento e desenvolvimento. Com o
desenvolvimento tecnológico no início do século XX, principalmente pelos registros
fotográficos, houve um impasse quanto ao destino dessas artes intrínsecas às
línguas.
Assim, Walter Benjamin, filósofo alemão do início do séc. XX,
dedicou-se a escrever ensaios sobre a arte da tradução e da narração. Ele
escreve que nos tempos modernos a capacidade de contar histórias foi ficando
cada vez mais rara. Para ele, a escassez dessa capacidade gera a
impossibilidade de trocar experiências. Enfatiza que traduzir e narrar exige
habilidades especiais: “nenhum poema
dirige-se, pois, ao leitor, nenhum quadro, ao expectador, nenhuma sinfonia, aos
ouvintes” (Benjamin, 2013, p. 101), eles dependem da habilidade de cada um em
fazer sua tradução e sua narração. Ele conclui que “é cada vez mais raro encontrar pessoas que saibam narrar qualquer
coisa com correcção” (Oliveira, 2009, p.110 citando Benjamin, 1992: 28). Francine Oliveira (2009) em “A narrativa e a
experiência em Walter Benjamin” afirma que Benjamin nos convida a uma reflexão
sobre o fim da experiência e das narrativas tradicionais.
Os
psicanalistas, em seu exercício de publicação e divulgação da psicanálise, parecem
pertencer a esse reduto raro de tradutores e narradores. Em cada encontro
analítico, o analista, tal qual uma câmera com o obturador totalmente aberto,
lá está e lá fica, à espera que sua objetiva/subjetiva capte num click único, o
raro flash emitido numa “noite escura”,
num tempo e espaço finito/infinito. A percepção de elementos que à luz figuram
formas que lá não estão e estão em busca de representação, possibilita que a
lente/mente do psicanalista registre a cena que é traduzida e narrada.
Os psicanalistas buscam uma aproximação
desse espetáculo psíquico através das artes plásticas em geral, da literatura,
da poesia, da música, do cinema, da língua, entre outras formas de
expressão/representação.
Os encontros psicanalíticos e culturais figuram
como o espaço destinado a compartilhar experiências passíveis de narrativas.
Estamos
próximos de mais um desses raros momentos de trocas de experiências promovidos
pela SBPRP. Nos dias 12 e 13 de junho próximo será realizado o evento SONHAÇÕES
e contamos com a presença de todos.
Bibliografia
consultada:
Benjamin, W. (2013)
A tarefa do tradutor, in Escritos
Sobre Mitos e Linguagem. Organização, apresentação e notas de Jeanne Marie
Gagnebin; tradução Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Duas Cidades
Editora.
Cruz, J. (1993) O amor não cansa nem se cansa. Seleção
de textos por Patrício Sciadini, revisão José Dias Goulart. São Paulo: Paulus.
Fontaine, M. L.(1992)-
Sete perguntas à Walter Benjamin, in
Dossie Walter Benjamin. Revista USP, São Paulo, n.15.
Oliveira, F. (2009) A Narrativa e a
Experiência em Walter Benjamin, trabalho apresentado no Oitavo Congresso
LUSOCOM. Universidade do Minho.
Comissão organizadora
0 comentários:
Postar um comentário