quinta-feira, 11 de junho de 2015



Editorial

            Thomas Ogden, em seu recente livro Leituras criativas: ensaios sobre obras analíticas seminais (2014), propõe que “entregar-se à experiência de ler, em hipótese alguma pode ser um evento imparcial ou passivo. Não só permitimos que “estranhos” (palavras e sentenças que não são nossas) entrem em nós, como também nos permitimos ser lidos por esse estrangeiro (a escrita). Com certeza, a escrita não pode nos ler, mas pode nos apresentar uma perspectiva a nosso respeito a partir da qual jamais tínhamos nos observado, e talvez nunca mais possamos deixar de incluir em nossa auto-observação” (p. 22).
Caros leitores, é com essa mesma proposição que esperamos possam usufruir este Volume V, Nº 2, da Berggasse 19. Sem dúvida, podemos considerá-lo uma edição comemorativa, na medida em que nesses cinco anos de existência, a Revista de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP) superou as dificuldades iniciais inerentes a todo periódico de publicação científica, atravessou fronteiras e hoje é conhecida não apenas no cenário psicanalítico brasileiro, como também no acadêmico. Além de cumprir seu objetivo na divulgação da produção literária no campo da Psicanálise, conquistou seu lugar como espaço de expressão e interlocução entre as diversas áreas da cultura, como se poderá constatar pelos expoentes autores aqui publicados.
            Contemplando a temática da III Bienal de Psicanálise e Cultura, promovida pela SBPRP, iniciamos este volume reunindo os psicanalistas Arnaldo Chuster, Antonio Sapienza e Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro, o jornalista Eugênio Bucci, o médico e cartunista Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, o filósofo Oswaldo Giacoia Junior e a semioticista Marisa Giannecchini Gonçalves de Souza que prontamente aceitaram publicar suas reflexões sobre “Humor, Verdade e Psicanálise”, apresentadas ao público que lotou o anfiteatro da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto/USP, nos dias 15, 16 e 17 de maio de 2014. Esperamos que os textos aqui disponíveis representem nova oportunidade para acompanhar as ideias desenvolvidas sobre o tema deste já tradicional evento de intercâmbio entre Psicanálise e Cultura.
Na sequência, a clínica psicanalítica e seus desdobramentos teórico-técnicos são abordados em dois instigantes artigos: Alicia Beatriz Dorado de Lisondo enfoca a importância do desenho (de paciente e analista) como recurso para dar forma a vivências primitivas de pacientes com Transtorno Global de Desenvolvimento Emocional (TGD). Regina Lúcia Braga Mota, percorrendo as ideias de Freud, Bion, Green e Lacan, entre outros autores, aprofunda a discussão sobre o manejo das situações-limite da patologia borderline, tão frequentes no mundo contemporâneo.
Em Cinema e Psicanálise, contamos com as contribuições de Marly Terra Verdi que discute as questões da feminilidade através do filme O piano (1993) e do livro Antes de nascer o mundo, de Mia Couto (2009), e de Débora Agel Mellem que, inspirada no filme A invenção de Hugo Cabret, reflete sobre os estados de retraimento afetivo, incluindo ilustrações de sua clínica psicanalítica.
Na seção Encontro: com a palavra, publicamos os ricos comentários de João Carlos Braga sobre a trilogia A Clinical Application of Bion’s Concepts, de autoria de Paulo Cesar Sandler, apresentados durante o lançamento da obra na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, em novembro de 2013.
Greice Priscilla Kökény de Oliveira nos apresenta a resenha do livro O riso e o risível na história do pensamento, de Verena Alberti, historiadora convidada da III Bienal de Psicanálise e Cultura da SBPRP.
Encerrando esta edição, uma entrevista descontraída com o jornalista Eugênio Bucci que nos conta sobre sua trajetória como crítico de cultura e televisão, além de aprofundar seus pontos de vista sobre o humor e a verdade no espetáculo, tema abordado por ele na Bienal.
A todos, uma leitura criativa!


Rosângela Faria
Editora


Referência
Ogden, T. (2014). Leituras criativas: ensaios sobre obras analíticas seminais. Trad. Tânia Mara Zalcberg. São Paulo: Escuta.


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