FILME VITUS
Dos sonhos que temos em vida,
quantos conseguimos realizar?
O que é que nos leva a
desistirmos de alguns deles?
Mais importante ainda: o que
é o sonhar? É possível explicar?
Estas foram as perguntas que
me surgiram ao acabar de assistir ao filme “Vitus”, do diretor suíço Fredi M.
Murer, um homem que se descreve deslumbrado com a vida. Na história de Vitus,
Murer, que também foi o roteirista, nos apresenta um menino que nasceu um
pianista prodigioso, e gênio.
Murer foca o período entre
infância e início da adolescência deste garoto, Vitus, período que é muito
especial para qualquer um de nós, segundo o diretor-roteirista, já que “é onde
tudo pode acontecer: podemos ser um da Vinci, um bombeiro, um caubói, tudo é
possível.”
Porém a questão central a que
ele nos conduz me parece ser sobre a dificuldade que encontramos para realizar
sonhos que nos levem em direção a nós mesmos. Em outras palavras, para
conseguirmos ser nós próprios diante de tantas convenções que o “establishment”
impõe, necessitamos ousar existir com nossas diferenças. Parece-me que Murer
nos propõe reflexões sobre como poder escolher a maneira própria de existir e
mesmo assim permanecer em sintonia com o grupo social, apesar de nascermos com
condições para ser e pensar diferentes da maioria.
Vitus pode ser tomado qual um
representante de nosso incômodo frente àquele que de uma forma ou de outra se
mostra genial em sua diferença.
Vitus, menino superdotado, um
gênio no piano, sente-se com enormes dificuldades para responder a pergunta: “O
que você quer ser quando crescer? ” Na ausência de continente para seus
conteúdos tão extraordinários, pois seus pais são pessoas comuns, ele desiste
temporariamente de usar sua inteligência, se estupidifica para tentar conviver
com as pessoas que o cercam.
W. Bion propõe que os termos
“místico”, “gênio” ou “messias”, possam ser intercambiáveis. Ele lembra que o
místico é tanto criativo quanto destrutivo, dois extremos que coexistem na
mesma pessoa. Ainda Bion, usando como sinônimos os termos gênio e místico, diz
que entre o místico e o “establishment” há uma relação problemática, que se
repete durante a história da humanidade. De fato, se procurarmos por exemplo
entre artistas, ou pensadores, veremos quanto eles foram perseguidos por sua
genialidade, alguns morrendo na fogueira, outros negando suas próprias
descobertas.
É em seu avô que Vitus descobre
um estímulo para criar asas para seus sonhos e assim realizar voos fantasiosos
que o ajudam a descortinar uma realidade possível para sua condição de gênio.
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