sexta-feira, 18 de novembro de 2016

No dia 3 de dezembro, às 10:30h, será realizado o lançamento da Revista Berggasse 19: Vol. VII - nº 1.

Local: Anfiteatro da SBPRP

Palestra “O Erotismo em Merleau-Ponty” com o Prof. Dr. Reinaldo Furlan, professor de filosofia no curso de Psicologia (graduação e pós-graduação) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP. 

As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas por meio do envio do nome completo ao e-mail sbprp.secretaria@gmail.com.

As vagas são limitadas. 



Os inquietantes estranhos estrangeiros

Dr. Alexandre Martins de Mello, editor da Revista Bergasse 19

“A história pessoal de Freud, o judeu errante da Galícia à Viena, em seguida Londres, passando por Paris, Roma e Nova York (para citar somente algumas etapas-chaves de sua provação cultural e política), condiciona essa preocupação de enfrentar a inquietação do outro enquanto mal-estar a partir de uma permanência da “outra cena” em nós. O meu mal-estar em viver com o outro – a minha estranheza, a sua estranheza – repousa numa lógica perturbada que regula esse feixe estranho de pulsão e de linguagem, de natureza e de símbolo que é o inconsciente, sempre já formado pelo outro. É por desatar a transferência – dinâmica maior da alteridade, do amor/ódio pelo outro, da estranheza constitutiva do nosso psiquismo – que, a partir do outro, eu me reconcilio com a minha própria alteridade-estranheza, que jogo com ela e vivo com ela. A psicanálise sente-se então como uma viagem na estraneidade do outro e de si mesma, em direção a uma ética de respeito pelo inconciliável. Como poderíamos tolerar o estrangeiro se não nos soubermos estrangeiros para nós mesmos? “ (Kristeva, Julia p. 190-191 [1]).

Propositalmente, lanço a citação de Julia Kristeva, do livro “Estrangeiros para nós mesmos”, para apresentar mais um exemplar da nossa Berggasse 19.

Neste número, temos três trabalhos de analistas de outros países, Giuseppe Civitarese, da Itália, Rui Aragão Oliveira e Paulo Alexandre Ferrajão, de Portugal e Leandro Stitzman, psicanalista argentino que visitou a SBPRP, em março de 2016 e também nos concedeu a entrevista desta edição. Ficamos muito honrados com a escolha dos colegas estrangeiros pela publicação de seus trabalhos conosco. A partir dos vértices trazidos por eles, já teríamos muito a estudar e pensar. Civitarese nos traz suas reflexões sobre a violência das emoções e sua estética, fundamentado no pensamento de Bion, com referências ao conceito de conflito estético de Meltzer. Aragão e Ferrajão nos oferecem uma revisão atualizada das teorias sobre trauma e abordam o trabalho analítico de uma paciente, para enfrentamento da perda de uma gravidez, elaboração da situação e a continuidade de sua vida reprodutiva, a partir de uma teoria das relações de objeto. Stitzman nos oferece suas ideias no artigo intitulado Framework, acaso e dom, em que propõe vértices fundamentais para observação do trabalho analítico. A entrevista desse autor brinda-nos com flashes de sua trajetória como psicanalista que ajudam a compreender e absorver o impacto de suas “ideias inquietas e travessas”.

No escopo de contemplar as atividades que aconteceram na nossa Sociedade, publicamos o artigo de um “estrangeiro”, filósofo, o Prof. Dr. Reinaldo Furlan da FFCLRP-USP, com seu trabalho apresentado na IV Bienal Psicanálise e Cultura, sobre cultura no ambiente tecnológico. Ainda vindo da Bienal, o trabalho de Anette Blaya Luz, da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, faz reflexões sobre o tema dos ambientes virtuais, enriquecendo nossa possibilidade para continuar as conversas e debates iniciados na IV Bienal.

Publicamos, também, os trabalhos de Liana Albernaz de Melo Bastos, de Suad H. Andrade e de Suely F. S. Delboni, expostos em uma mesa do XXV Congresso Brasileiro de Psicanálise, que trazem reflexões sobre a sedução, as quais emocionaram a plateia que assistiu às conferências em São Paulo. Ainda, temos o trabalho de Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro, com reflexões atuais a respeito do tema violência e corrupção na clínica contemporânea.

Na sessão Cinema e Psicanálise, temos o artigo intitulado “O Unheimlich em Jogo de Cena”, escrito pelo psicólogo Renato Tardivo, de São Paulo, na sessão Cinema e Psicanálise, em que tece uma rede de ideias, relacionando o filme de Eduardo Coutinho com o artigo de Freud “Unheimlich”, citado pelo autor como “O Inquietante”.

A interlocução entre a Psicanálise e outras áreas do conhecimento – “estranhos estrangeiros” – sempre teve relevância desde sua fundação por Freud. Muitas vezes, não é fácil hospedar os conhecimentos “estrangeiros” e articulá-los com nossos saberes, porque nos inquietam, despertando nossa curiosidade (K), nosso amor (L) e nosso ódio (H), quando nos deparamos com ideias surpreendentes. Destaco a abertura e maturidade da Berggasse 19, com seu conselho editorial para receber artigos de diversos autores com ideias diferentes, particularidades da escrita subjetiva de cada um e também trabalhos vindos de outras áreas.

Encerro com as boas-vindas às colegas Sandra Nunes Caseiro e Maria Lucimar Fortes Paiva Defino que agora farão parte do Conselho Editorial. Agradeço a todos os membros do Conselho, aos pareceristas, tradutores e revisores que colaboraram com esta edição.

Desejo a todos uma boa leitura e o florescer de novas ideias.

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[1] Kristeva, J. (1994) Estrangeiros para nós mesmos. Rocco: Rio de Janeiro. Trabalho original publicado em 1988.

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