quarta-feira, 30 de outubro de 2013

“Transferência / Contratransferência e outras configurações na dupla analítica: contribuições de Freud, Klein e Bion”

Por Cristiane Sampaio
Mtb. 61.431



Hoje vamos divulgar o encontro do SAP – Serviço de Atendimento em Psicanálise, que acontece na próxima terça-feira (05/11) na sede da SBPRP. Às 20h será realizada a sessão com o projeto Semeando sobre o tema “Transferência / Contratransferência e outras configurações na dupla analítica: cottribuições de Freud, Klein e Bion”, com a psicanalista, membro efetivo e analista didata da SBPRP, Dra. Rachel B. L. Beltrame e às 21h a sessão do projeto Clinicando.

“O conceito de Transferência surge no inicio da Psicanálise e, embora tenha sofrido extensas e variadas transformações, continua sendo um instrumento valioso para o trabalho analítico.
Freud a definia como um processo através do qual o paciente colocava na figura do médico vivências do passado como se fosse um fato atual (sem ter consciência disso).


O que de inicio foi considerado como uma obstrução ao tratamento levando, inclusive, à sua interrupção (caso de Ana O e Caso Dora) aos poucos foi sendo reconhecido como um importante instrumento de trabalho, pois ao reviver experiências infantis com o analista, o paciente passa a ter uma condição de percebê-las e elabora-las através das interpretações. 


Embora com modificações significativas, Melanie Klein e Bion reconheceram a importância e validade deste conceito e o mantiveram em suas teorias”, explicou a Dra. Rachel Beltrame.

Será mais um evento imperdível aos universitários e profissionais interessados em psicanálise. Vamos? Será um bate-papo e tanto.

Não deixe de participar!

As inscrições são gratuitas e poderão ser feitas pelos tels. (16)3911-1115 / 3911-4243 ou pelo e-mail sbprp.instituto@gmail.com

Conheça o projeto - Terças na Sociedade

Semeando a Psicanálise e Clinicando em Ribeirão Preto

O objetivo é apresentar alguns aspectos da teoria e técnica psicanalítica, para estudantes e profissionais recém-formados dos cursos de psicologia e medicina por meio de palestras e seminários clínicos ministrados por psicanalistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto. O projeto é organizado pela Dra. Regina C. Mingorance de Lima, com a colaboração da Sra. Marystella Carvalho Esbrogeo.

Serviço

SBPRP
Rua Ércoli Verri, 230 - Jardim Ana Maria
Ribeirão Preto - CEP- 14026-200
(16) 3623-7585

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A comissão científica do atual conselho diretor programou pequenos eventos que serão realizados nas manhãs de sábado na sede da SBPRP. O objetivo destes é propiciar aos nossos membros e membros filados à Febrapsi, um espaço para promover reflexões continuadas sobre alguns movimentos que têm ocorrido na Psicanálise Contemporânea e que projetam suas consequências em toda a prática psicanalítica.

Com o título de “MOVIMENTOS NA PSICANÁLISE ATUAL: EXPANSÕES E RUPTURAS” foram programados três eventos:

1-“MENTE MULTIDIMENSIONAl”  com João Carlos Braga em 30/11/13;
2 -“A LINGUAGEM ESTÉTICA NA PSICANÁLISE” com Cecil José Rezze, Luiz Tatit e Abram Eksterman em 15/03/14;
3- RUMO A UMA TERCEIRA TÓPICAcom José Martins Canelas Neto em 30/08/14.

O primeiro evento “MENTE MULTIDIMENSIONAL” terá como subtítulo “As Experiências Emocionais do Analista como Fio Condutor nos Labirintos da Mente Multidimensional” de João Carlos Braga.  Ele é Membro efetivo e analista didata da Sociedade de Psicanálise de São Paulo e um dos fundadores do NPC.  Profundo conhecedor do pensamento Bioniano é coordenador de vários grupos de estudo da obra do referido autor.

João Carlos Braga, nas últimas décadas tem se empenhado em compreender as propostas contidas na obra de Wilfred Bion e, para tanto, faz uma reflexão abrangente sobre o impacto mental da qualidade emocional do conhecimento, apresentando o conceito de experiência emocional como fio condutor. Segundo ele este conceito atravessa a obra de Bion e se revela como a pedra fundamental na constituição do psiquismo.

            
Comissão Organizadora
Cecïlia Barreto Dias
Cybelli Morello Labate
Julio C. T. C. Labate
Luciano Bonfante
Maria Aparecida Pelissari - coordenadora
Maria Auxiliadora Campos
Regina Cláudia Mingorance de Lima




terça-feira, 22 de outubro de 2013

“Manifestações do inconsciente na clínica”

Por Cristiane Sampaio
Mtb. 61.431


Hoje vamos divulgar o encontro do SAP – Serviço de Atendimento em Psicanálise, que acontece nesta terça-feira (22/10) na sede da SBPRP. Às 20h será realizada a sessão com o projeto Semeando sobre o tema “Manifestações do inconsciente na clínica”, com a psicanalista Dra. Beatriz Troncon Busatto e às 21h a sessão do projeto Clinicando. Um evento imperdível aos universitários e profissionais interessados em psicanálise. Vamos?

Será um bate-papo e tanto. Não deixe de participar!
 

Conheça o projeto - Terças na Sociedade
Semeando a Psicanálise e Clinicando em Ribeirão Preto


O objetivo é apresentar alguns aspectos da teoria e técnica psicanalítica, para estudantes e profissionais recém-formados dos cursos de psicologia e medicina por meio de palestras e seminários clínicos ministrados por psicanalistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto. O projeto é organizado pela Dra. Regina C. Mingorance de Lima, com a colaboração da Sra. Marystella Carvalho Esbrogeo.

Serviço


SBPRP
Rua Ércoli Verri, 230 - Jardim Ana Maria
Ribeirão Preto - CEP- 14026-200
(16) 3623-7585


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

“O homem nu”

Por Cristiane Sampaio
Mtb. 61.431


Olá,

Hoje, vamos divulgar mais uma sessão de Cinema & Psicanálise em Ribeirão Preto, o polêmico filme nacional “O homem nu”. A exibição acontecerá neste domingo, 20/10, às 15h no SESC. Mais um evento imperdível.

Os comentários após o filme serão realizados pela Psiquiatra e Membro filiado da SBPRP, Marta Dominguez Sotelino. A convite do blog, ela nos adiantou uma prévia do filme, confira!

O homem nu, filme de 1997, dirigido por Hugo Carvana com Claudio Marzo no papel principal. Roteiro de Fernando Sabino, baseado numa crônica sua do livro O Homem Nu.

O escritor Sílvio Proença precisa embarcar para São Paulo, a fim de divulgar seu novo livro. No aeroporto, encontra um grupo de velhos companheiros. Com o embarque cancelado devido a uma forte tempestade, o grupo segue para o apartamento de Marialva, sobrinha de um dos amigos de Proença. Seduzido pela música e pelos encantos de Marialva, Proença passa a noite ali mesmo, onde desperta no dia seguinte, completamente nu. Ainda zonzo da ressaca, vai apanhar o pão deixado à porta do apartamento; é quando o vento fecha a porta e deixa-o nu do lado de fora. Iniciasse então uma corrida sem fim, mobilizando uma multidão de pessoas que o seguem, com as suas mais diferentes hipóteses.
 

É um filme ao mesmo tempo tenso e divertido, que desperta em nós vários questionamentos sobre a civilização, a nudez e seus significados. O que será que realmente tentamos cobrir com nossas vestimentas? Do que fugimos e o que desejamos encontrar? Temos realmente coragem de nos apresentarmos como somos? E afinal quem somos? Qual a nossa verdade?

Criamos uma página para o evento no facebook, clique AQUI e confirme sua presença.

Nos vemos lá!


Por Silvana Andrade   

“Quando conscientemente, aos 13 anos de idade, tomei posse da vontade de escrever – eu escrevia quando era criança, mas não tomava posse de um destino - quando tomei posse da vontade de escrever, vi-me de repente num vácuo. E nesse vácuo não havia quem pudesse me ajudar. Eu tinha eu mesma que me erguer de um nada, tinha eu mesma que me entender, eu mesma inventar por assim dizer a minha verdade. Comecei, e nem sequer era pelo começo. Os papeis se juntavam um ao outro – o sentido se contradizia, o desespero de não poder era um obstáculo a mais para realmente não poder. (...) eu não contava com ninguém, vivia aquela dor sozinha. Uma coisa eu já adivinhava: Era preciso tentar escrever sempre, não esperar por um momento melhor porque este simplesmente não vinha. Escrever sempre me foi difícil, embora tivesse partido do que se chama vocação. Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir.”
                                    

In: Escrever – A descoberta do mundo pag.286.

O evento Clarice Lispector: Inquietações do inacessível acontece em 19 de outubro, na cidade de Ribeirão Preto. Se você se interessou pela temática, clique AQUI e garanta a sua inscrição.  As vagas são limitadas.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Por Cristiane Sampaio
Mtb. 61.431

Agora falta apenas um dia para o grande evento "Clarice Lispector: Inquietações do inacessível". Para inspirar ainda mais vocês participantes, durante toda a semana estamos postando notas e matérias sobre esta grande artista. Hoje, a equipe organizadora do evento preparou um vídeo especial como aquecimento ao evento. Apreciem!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Por Silvana Andrade  

Clarice começou a escrever na infância, apresentando desde o início a característica de escrever em uma linguagem mágica, incomum na literatura brasileira, fato que inicialmente dificultou a publicação de seus contos. Nesta mesma entrevista ela conta:

"No Diário de Pernambuco, às quintas-feiras, publicavam-se contos infantis. Eu cansava de mandar meus contos, mas nunca publicavam, e eu sabia por quê. Porque os outros diziam assim: 'Era uma vez, e isso e aquilo... ’. E os meus eram sensações."

                                                                                     In: Clarice Lispector – Outros Escritos, pag. 139
 
O evento Clarice Lispector: Inquietações do inacessível acontece em 19 de outubro, na cidade de Ribeirão Preto. Se você se interessou pela temática, clique AQUI e garanta a sua inscrição.  As vagas são limitadas.

terça-feira, 15 de outubro de 2013


Por Maria Letícia Wierman 


"Estou entrando sorrateiramente em contato com uma realidade nova para mim que ainda não tem pensamentos correspondentes e muito menos ainda uma palavra que a signifique: é uma sensação atrás do pensamento", (Água Viva, pg.44).

Clarice é uma escritora intimista, das entranhas. Busca  até as últimas conseqüências dar "voz" aos cantos mais remotos de nosso interior. Capta como um radar ultra sensível as sutilezas, as minúcias que nos escapam. Sua atração é pelo insondável, pelo indizível.


Clarice e a Psicanálise compartilham o mesmo vértice de observação.


Clarice Lispector: Inquietações do inacessível acontece em 19 de outubro, na cidade de Ribeirão Preto. Se você se interessou pela temática, clique AQUI e garanta a sua inscrição para o evento. 

As vagas são limitadas.


Por Silvana Andrade

Em seu mais longo depoimento, no dia 20 de outubro de 1976, gravado no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro Clarice Lispector conta que desde a infância, mesmo antes de aprender a ler tinha o hábito de brincar com as palavras e contar histórias:

“Antes de aprender a ler e escrever eu já fabulava. Inclusive, eu inventei com uma amiga minha, meio passiva, uma história que não acabava. Era o ideal, uma história que não acabasse nunca. (...) A história era assim: eu começava, tudo estava muito difícil; os dois mortos... Então entrava ela e dizia que não estavam tão mortos assim. Assim recomeçava tudo outra vez... Depois, quando aprendi a ler, devorava os livros, e pensava que eles eram como árvore, como bicho, coisa que nasce. Não sabia que havia um autor por trás de tudo. Lá pelas tantas eu descobri que era assim e disse: ‘ Isso eu também quero.”

In: Clarice Lispector – Outros Escritos, pag. 139.


A vida de Clarice também será abordada durante o evento de Psicanálise & Literatura – Clarice Lispector: Inquietações do inacessível realizado pela SBPRP no próximo dia 19 de outubro.

Se você se interessou pela temática, clique AQUI e garanta a sua inscrição. As vagas são limitadas.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013


Por Silvana Andrade

Nascida na Ucrânia, Clarice chegou ao Brasil com menos de dois anos de idade. Considerando-se brasileira, lutou bravamente pela sua cidadania brasileira. Escreveu ao presidente Getúlio Vargas solicitando sua naturalização valendo-se do argumento:
“Uma russa de 21 anos de idade e que está no Brasil há 21 anos menos alguns meses. Que não conhece uma só palavra de russo, mas que pensa, fala, escreve e age em português, fazendo disso sua profissão e nisso pousando todos os projetos do seu futuro, próximo ou longínquo.”
Para conferir o texto role a barra lateral até o final da matéria.
Clarice não voltou à Rússia, mas viveu, irremediavelmente, a sensação de sentir-se "estrangeira” nos vários lugares em que viveu ao longo de sua vida.

O conceito de "estrangeiro" em psicanálise coincide com o retorno do recalcado, mas também se confunde com o outro, aquele que me é estranho, que eu não quero ser, que eu sinto que não é eu, mas, não obstante, habita em mim.

Clarice sabia muito bem o que isso significava, seus escritos demonstram que convivia com este estrangeiro ativo dentro de si cotidianamente.

Através da personagem G.H., por exemplo, Clarice nos conduz ao amago de uma crise de referência, típica do ser humano e bastante evidente na pós-modernidade.

"Estou procurando, estou procurando. estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi, mas não sei quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo desta desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro." ( A Paixão Segundo G.H., Editora Rocco, pag.4)

Nesta condição o ser humano já não sabe mais qual o seu lugar no mundo, ou o que pensar das suas experiências e como ajusta-las em um todo coerente e satisfatório, sua tendência é de compartilhar com o outro, família, amigos, etc. a noção e a imagem de tudo aquilo que não se é, uma vez que é mais fácil excluir e projetar no outro as próprias angústias.

Em seu percurso rumo ao conhecimento do estrangeiro, Clarice mergulha fundo nestas questões e não se propõe a assimilar e nem mesmo a negar as angústias advindas desta condição, pelo contrário, sustenta suas indagações na busca de abrir um espaço para admitir e tolerar este inquietante estranhamento presente em todos nós. Sua percepção e sua busca estão em sintonia com o olhar e o trabalho psicanalítico, que se propõe a ajudar o ser humano a sustentar esta exploração, a fim de que possamos admitir e tolerar o sentimento de ser estrangeiro, convivendo com os diferentes aspectos de sua personalidade. 

Dada à complexidade da condição humana e da sociedade pós-contemporânea em que vivemos, a interlocução entre psicanálise e literatura demonstra ser uma excelente possibilidade de ampliarmos e afinarmos nossos instrumentos psicanalíticos e abrirmos espaços para acolher o estrangeiro dentro de nós,  com seus aspectos híbrido e plural, permitindo a abertura para muitas singularidades e novas possibilidades. 

Gostou do post de hoje? A vida de Clarice também será abordada durante o evento de Psicanálise & Literatura – Clarice Lispector: Inquietações do inacessível realizado pela SBPRP no próximo dia 19 de outubro.

Se você se interessou pela temática, clique AQUI e garanta a sua inscrição. As vagas são limitadas.

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Carta de Clarice Lispector à Getúlio Vargas.

Rio de Janeiro, 3 de junho de 1942

Senhor Presidente Getúlio Vargas:

Quem lhe escreve é uma jornalista, ex-redatora da Agência Nacional (Departamento de Imprensa e Propaganda), atualmente n'A Noite, acadêmica da Faculdade Nacional de Direito e, casualmente, russa também.

Uma russa de 21 anos de idade e que está no Brasil há 21 anos menos alguns meses. Que não conhece uma só palavra de russo, mas que pensa, fala, escreve e age em português, fazendo disso sua profissão e nisso pousando todos os projetos do seu futuro, próximo ou longínquo. Que não tem pai nem mãe - o primeiro, assim como as irmãs da signatária, brasileiro naturalizado - e que por isso não se sente de modo algum presa ao país de onde veio, nem sequer por ouvir relatos sobre ele Que deseja casar-se com brasileiro e ter filhos brasileiros. Que, se fosse obrigada a voltar à Rússia, lá se sentiria irremediavelmente estrangeira, sem amigos, sem profissão, sem esperanças.

Senhor presidente. Não pretendo afirmar que tenho prestado grandes serviços à Nação - requisito que poderia alegar para ter direito de pedir a V. Ex.ª. a dispensa de um ano de prazo, necessário a minha naturalização. Sou jovem e, salvo em ato de heroísmo, não poderia ter servido ao Brasil senão fragilmente. Demonstrei minha ligação com esta terra e meu desejo de servi-la, cooperando com o DIP, por meio de reportagens e artigos, distribuídos aos jornais do rio e dos estados, na divulgação e na propaganda do governo de V. Exª. E, de um modo geral, trabalhando na imprensa diária, o grande elemento de aproximação entre governo e povo.

Como jornalista, tomei parte em comemorações das grandes datas nacionais, participei da inauguração de inúmeras obras iniciadas por V. Exª., e estive mesmo ao lado de V. Exª mais de uma vez, sendo que a última em 1º de maio de 1941, Dia do Trabalho.
Se trago a V. Exª. o resumo dos meus trabalhos jornalísticos não é para pedir-lhe, como recompensa, o direito de ser brasileira. Prestei esses serviços espontânea e naturalmente, e nem poderia deixar de executá-los. Se neles falo é para atestar que já sou brasileira.

Posso apresentar provas materiais de tudo o que afirmo. Infelizmente, o que não posso provar 
materialmente - e que, no entanto, é o que mais importa - é que tudo que fiz tinha como núcleo minha real união com o país e que não possuo, nem elegeria, outra pátria senão o Brasil.
Senhor presidente. Tomo a liberdade de solicitar a V. Exª. a dispensa do prazo de um ano, que se deve seguir ao processo que atualmente transita pelo Ministério da Justiça, com todos os requisitos satisfeitos. Poderei trabalhar, formar-me, fazer os indispensáveis projetos para o futuro, com segurança e estabilidade. A assinatura de V. Exª. tornará de direito uma situação de fato. Creia-me, Senhor Presidente, ela alargará minha vida. E um dia saberei provar que não a usei inutilmente.                            
                                                                              
Clarice Lispector



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Ciclo Lars Von Trier apresenta o filme “Anticristo”
 Por Cristiane Sampaio
Mtb. 61.431


Hoje, vamos divulgar aqui no blog mais um projeto exclusivo de Cinema & Psicanálise, o “Ciclo Lars Von Trier”. Uma série que tratará de filmes que, de certa forma, são autobiográficos do consagrado cineasta dinamarquês e que versam sobre as profundezas da dor na alma humana. A primeira sessão acontecerá em 26 de outubro às 14h30min no IFF – Instituto Figueiredo Ferraz e apresentará Anticristo
 
A película conta a história de um casal (Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg) que vive devastado com morte do único filho e muda-se para uma casa isolada no meio da floresta, visando superar a dor da perda do filho. Entretanto, os questionamentos do marido, psicólogo, sobre a dor do luto e o desespero de sua esposa desencadeiam uma espiral de acontecimentos misteriosos e assustadores. E as consequências de um uma presunçosa investigação psicológica são as piores possíveis.

Mais uma sessão instigante que vai nos proporcionar uma bela discussão ao final do filme. Os comentários serão realizados pelo psicanalista, membro efetivo e analista didata da SBPRP, Dr. Miguel Marques. Um evento imperdível!

Atenção! As inscrições são limitadas e somente serão realizadas pessoalmente ou pelo telefone 3623-7585 até dia 24/10 ou enquanto sobrarem vagas. Falar com Felipe, no horário de 2ª a 6ª, das 8h às 13h e 14h30min às 17h45min.

Contamos com a sua participação. Garanta o seu lugar!
 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

“Explosão”

Clarice Lispector foi escritora, repórter, jornalista, entrevistadora e pintora. Ela pintou vários quadros em madeira, respeitando as nervuras da matéria, mas mantendo sempre a liberdade de criar. Destaquei de seu conjunto de obras o quadro “Explosão”, de 1975, com a intenção de ilustrar a intertextualidade existente entre seus contos, romances e pinturas.

Nesse quadro - “Explosão” - Clarice jogou um vidro de esmalte vermelho berrante sobre a madeira. Três manchas vermelhas são o núcleo das rebentações e desses núcleos nascem rápidas pinceladas em preto e amarelo.

Segundo Olga Borelli (1981) Clarice descreveu esse quadro da seguinte maneira: “Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito.”

Ao mergulhar na extensa obra de Clarice Lispector fui realizando ligações entre um texto e outro, percebendo que a intertextualidade realizada pela autora, com as suas próprias obras, foi se tornando instigante e integradora para mim. 

No conto “Amor”, que está no livro Laços de Família (1960), Clarice nos insere na experiência emocional de ruptura (explosão) entre o conhecido e o desconhecido do psiquismo da personagem. É o instante de ruptura de defesas, ruptura do distanciamento de si mesma que faz desabrochar, subitamente, o seu núcleo de existência. Ana - personagem desse conto - experimenta com toda intensidade novos conhecimentos sobre si mesma. Experimenta a explosão de sensações, de sentimentos, de vida interior. Seu mundo “falsamente organizado” é desconstruído; ela experimenta o doce gosto de sua existência.

Clarice nos diz no conto “Amor”:     
“Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse.  ...- tudo feito de modo a que um dia se  seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso.  ... Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver”.

Geralmente a crítica literária denomina esses momentos, essas explosões, de “epifania” – significando uma súbita revelação da verdade. 


Clarice, em sua obra, trazendo essas situações de Explosão, deixa-nos com a impressão de que seus personagens estão submersos em estados de mente que conseguem manter suas vidas estruturadas, porém superficiais, dominados pela mesmice. Mesmice que significa morte. Clarice quer vida, quer vida interior, quer profundidade, quer verdade, porque assim seus personagens (e ela mesma - acredito eu) se agarram desesperadamente ao seu sentimento de existência. Existência verdadeira, existência que guarda em si uma identidade própria. É o encontro com uma verdade buscada sobre si mesma que lhe parecia inatingível. Agarrar-se aos instantes de explosão de sensações e seu desenrolar tem como significado a experiência profunda de estar viva. É assim em “Paixão segundo G.H”. (1964), é assim em “A Hora da Estrela” (1977). 

Clarice, em “A Hora da Estrela” (1977), insere a palavra “explosão” inúmeras vezes, criando a impressão de que utilizava essa palavra  entre parêntesis como um recurso para não ter que descrever esses instantes através de imagens ou palavras. A palavra “explosão” já continha em si mesma os significados expostos em seus outros romances e contos.

Em seu livro “Paixão segundo G.H.”, sua personagem após experimentar a explosão, é assim “pintada” por Clarice: “Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo – quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.”

O livro “Água viva” (1973) é marcado pela descrição da autora da sua necessidade de experimentar esses momentos de explosão, que são os intantes-já.  Esses “instantes-já” a arremessam em direção ao seu sentimento de existência, de sua humanidade, de sua matéria-prima, de sua vontade de viver. 

“Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa(...) quero capturar o presente que pela sua própria natureza me é interdito: o presente me foge, a atualidade me escapa, a atualidade sou eu sempre no já. Só no ato do amorpela límpida abstração de estrela do que se sente - capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si: no amor o instante de impessoal joia refulge no ar, glória estranha de corpo, matéria sensibilizada pelo arrepio dos instantes – e o que se sente é ao mesmo tempo que imaterial tão objetivo que acontece como fora do corpo, faiscante no alto, alegria, alegria é matéria de tempo e é por excelência o instante. E no instante está o é dele mesmo. Quero captar o meu é. (...) Meu tema é o instante? meu tema de vida. Procuro estar a par dele, divido-me milhares de vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos – só me comprometo com vida que nasça com o tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim”.

Clarice buscou, incessantemente, sentir a presença de vida em seu interior.  Principalmente, quando já estava aproximando-se da morte. Ela escreveu, concomitantemente, o romance belíssimo “A hora da Estrela” (1977) e “Sopro de Vida” (1978).

Ela encerra seu romance a “Hora da Estrela” assim:

“Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas – mas eu também?!
Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
Sim.”

Clarice escreve para salvar a própria vida.


Denise L. Rosado Antônio
Psicanalista, Membro efetivo da SBPRP

A Psicanalista Denise L. Rosado Antônio será uma das palestrantes durante o evento de Psicanálise & Literatura – Clarice Lispector: Inquietações do inacessível que será realizado pela SBPRP no próximo dia 19 de outubro.

Se você se interessou pela temática, clique AQUI e garanta a sua inscrição. As vagas são limitadas. 


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